Primeiro post... primeiro blog... e Arnaldo Baptista, o Loki

Há muito venho adiando este momento, não sei exatamente o motivo. Talvez por falta de tempo, um pouco de receio em dividir minhas ideias e pensamentos na rede, mas, certamente, me faltava a certeza do que escrever aqui. Após ver outros blogs e de algumas dicas valiosas de quem está por aqui há mais tempo, saquei que o lance é falar sobre o que me interessa. Compartilhar o que gosto de ler, assistir, e principalmente ouvir, até porque, a música sempre foi o leme da minha vida. Comecei o meu acervo ainda criança – a minha primeira fita K7 gravada no antigo polyvox que a gente tinha na sala da nossa casa data de 1982 – quando o pequeno Gustavo tinha apenas dez aninhos. Desde então, foram centenas de outras fitas K7, LPs, CDs, DVDs, coleções de revistas especializadas, tudo devidamente guardado e catalogado até hoje. Então, meus caros leitores, procurarei compartilhar com vocês um pouco disso tudo que absorvi durante esses quase trinta anos de romance, paixão e tesão pela música.




Para o primeiro post, escolhi a minha última aquisição, o documentário que conta a criativa, louca e trágica história do eterno Mutante Arnaldo Baptista. “Loki”, de 2009, dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, mostra com detalhes a genialidade e a loucura lírica da vida desse mestre da música brasileira. Com imagens raras de toda a vida de Arnaldo, e com depoimentos fortes, o longametragem desvenda os mistérios do “universo” Arnaldo Baptista.

Ao lado do irmão Sérgio Baptista e da eterna paixão Rita Lee, Arnaldo criou, na minha opinião, o grupo de rock mais importante do Brasil. Numa época dominada pelo requinte da bossa nova, pela histeria da jovem guarda e pelas músicas de protesto, Os Mutantes deixaram de cabelo em pé os puristas, ao aparecerem com músicas sarcásticas e debochadas tocadas com a guitarra elétrica cheia de efeitos e distorções. A banda não durou muito tempo, mas deixou uma obra necessária para todas as próximas gerações, e até hoje, seus discos estão em todas as listas dos discos mais influentes da música brasileira. O saudoso vocalista do Nirvana, Kurt Cobain, e o filho de John Lennon, Sean Lennon, são, ou era, no caso do Kurt, fãs assumidos da banda, e afirmam, ou, novamente no caso do Kurt, afirmava, que a obra dos Mutantes os influenciaram.

Apesar de Sérgio e Rita, além do baterista Dinho Leme, nascido aqui em Campo Grande, terem papel fundamental na criação da banda, Arnaldo era a peça principal, musicalmente ele era, e ainda é, um gênio. Porém, a loucura causada pelo abuso de LSD, tirou do trilho a vida de Arnaldo. O LSD acabou com o curto casamento de Arnaldo e Rita, ao deixar Arnaldo, Rita deixou também Os Mutantes. Todas essas perdas foram traumáticas para Arnaldo, que, afundado na loucura do LSD, não aguentou a pressão e pirou.

Ele continuou produzindo trabalhos não menos importantes que os com Os Mutantes – como a obra prima “Loki”, de 1974 – mas, na noite de réveillon de 1981/82, Arnaldo se joga do 4º andar da ala psiquiátrica do Hospital do Servidor Público de São Paulo, onde estava internado, fechando o primeiro ciclo da sua vida. Arnaldo ficou em coma durante quatro meses e onze dias, e, apesar de uma séria fratura no crânio, que o deixaria com sequelas, ele sobrevive. Ao sair do coma, Arnaldo descobre que durante todo o tempo em que dormiu, seu sono foi velado por uma desconhecida, por uma fã. Percebendo que Arnaldo estava abandonado pela família e pelos amigos, Lucinha Barbosa não arredou o pé da cama até o dia da alta médica. Arnaldo e Lucinha se casaram, e ela foi responsável pela sua recuperação física, criativa, e pelo segundo ciclo da sua vida.

Arnaldo Baptista viveu duas vidas, ambas, muito bem costuradas no documentário. A ausência de depoimentos da Rita Lee certamente deixa algumas linhas soltas na história, mas, devido a algumas situações implícitas no filme, incluindo um pedido de desculpa do próprio Arnaldo, é mais do que justificável a sua negativa.

O que mais impressiona e emociona é como ele transforma todas as tragédias, traumas e perdas em música, em arte. Como diz a música escrita por Arnaldo e Rita, “Dizem que sou louco, por pensar assim. Mais louco é quem me diz, que não é feliz. Eu sou feliz.” Arnaldo “Loki” Baptista hoje é um homem feliz!




* Um detalhe interessante é que Arnaldo e Rita passaram a Lua de Mel em uma fazenda em Miranda, aqui em MS. Todos Os Mutantes vieram para a festa. Rola um boato que no final da década de 60, os Stones Mick Jagger e Keith Richards também estiveram em uma fazenda em Miranda. Será que é a mesma fazenda? Se eu descobrir eu conto para vocês.

** Nos próximos dias, vou postar alguns trechos do livro que escrevi, como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), sobre os músicos Guga Borba e Guilherme Cruz. Aguardem...