I'm Too Old Too Rock'n'Roll





Dias atrás eu estava fazendo uma limpeza no meu PC e encontrei algumas entrevistas e matérias da época da faculdade, e no meio de tantos arquivos inúteis, encontrei a entrevista que eu fiz com um cara que tem uma história e tanto para contar. Robson Goulart é produtor executivo de shows e já viajou o mundo trabalhando para algumas das maiores bandas de rock. Eu o conheci no final da década de 90, assim que ele chegou a Campo Grande, e desde o primeiro contato me impressionei com a sua carreira profissional. Impressionou-me ainda mais saber que um cara com a sua experiência e capacitação tinha dificuldade de trabalhar em Mato Grosso do Sul. Então, resolvi compartilhar com vocês essa entrevista onde ele conta um pouco da sua profissão, da sua história e da sua carreira como vocalista. 





Robson Goulart de Oliveira é produtor executivo, produtor de palco, tour manager e diversos outros termos que dá nome a sua profissão. Na verdade, ele é o cara que faz o som rolar redondo no palco. A abrangência da sua função vai desde o translado dos músicos até a montagem e iluminação do palco. Nos seus 47 anos de vida, Robson passou quase trinta viajando com grandes artistas da música internacional, como Rolling Stones e A-ha, e com nomes nacionais de peso que é o caso da dupla Zezé di Camargo e Luciano.

Paulistano, Robson teve seus melhores momentos como produtor na terra da garoa. Mudou-se para Campo Grande no final de 1999 onde trabalhou com algumas duplas sertanejas. Na entrevista abaixo ele fala com alegria da sua profissão e das suas viagens, confessa uma certa mágoa com a inexperiência e a falta de profissionalismo dos produtores culturais da capital. Robson fala ainda da sua carreira de músico e do sonho de trabalhar com um grande artista sul-mato-grossense.

Pouca gente conhece a sua profissão. Qual seria exatamente a função de um produtor de palco?

Na verdade eu sou produtor executivo, e dentro da profissão tem várias funções ligadas a ela. Eu faço a parte de projetar um palco para um evento que me for requerido e depois faço a execução do mesmo, como montagem de palco e cenário. Isso é mais conhecido como stage production. Também sou iluminador e ligth designer, onde faço o projeto de iluminação e executo o projeto de montagem. Na parte de produção eu também faço o contato entre o contratante e o contratado para organizar o show, o translado, hospedagem, alimentação e horários do trabalho. Tudo isso juntamente com a equipe em que irei trabalhar.



Robson em frente a bateria do Mike Portnoy (Dream Theater)



Você é paulistano e começou sua carreira lá. É notória a produção cultural de São Paulo. E aqui em Mato Grosso do Sul, especificamente na capital, existe muito espaço para a sua área?

Existe, mas ainda é um pouco complicado. Quando eu cheguei aqui em Campo Grande, em meados de 99, era muito difícil trabalhar nessa área. Eu me lembro bem que havia muito pouca mão de obra especializada nessa área. Mas a maior dificuldade que eu senti foi que as pessoas que estavam nesse setor não deixavam você entrar no circuito. Isso ainda acontece, mas tem melhorado bastante, pois, se não houver uma abertura de colaboração profissional não tem como crescer o trabalho. Com o tempo estão acontecendo algumas melhoras gradativas, mas isso está sendo alcançado devido a alguns empresários que estão buscando aprimorar o setor profissional e cultural no Mato Grosso do Sul.  


Robson e Matthias Jabs, guitarrista do Scorpions


Você trabalhou com vários nomes importantes da música internacional e nacional. Cite alguns dos mais significativos.

Realmente eu tive a grata oportunidade de trabalhar com vários artistas tanto internacionais como também nacionais. Eu me lembro que quando me interessei pelo trabalho tive a oportunidade de iniciar com grandes nomes de produtores internacionais como Jake Barry, que na época já era um dos grandes stage productions mundiais, e eu trabalhei com ele na produção dos shows do Metallica e Rolling Stones. Também fiz trabalhos com outras bandas como Dream Theater, Motorhead, Yngwie Malmsteen, A-há e Information Society, entre outros. Na parte nacional eu fui produtor da dupla Zezé di Camargo e Luciano, Fafá de Belém, também fui tour manager da banda Angra. Tive a grata oportunidade de trabalhar com a Cássia Eller aqui em Campo Grande na última vez em que ela esteve aqui, fazendo a produção de palco para sua equipe. Trabalhei também com Leandro e Leonardo como assistente de produção. Também não poderia deixar de mencionar que trabalhei com alguns artistas sul-mato-grossenses como Marco Aurélio e Paulo Sérgio, Jads e Jadson e João Bosco e Vinicius entre outros.


Robson e Klaus Meine, vocalista do Scorpions. Ao fundo, o guitarrista Rudolf Schenker entornando certamente algo etílico


Hoje você já não trabalha com shows. Há quanto tempo você deixou os palcos e por quê?

Já tem mais ou menos uns dois anos que deixei de trabalhar na área. Primeiro porque eu precisava estar mais próximo a minha família, já havia algum tempo que eu precisava estar mais presente, principalmente porque temos um filho pequeno e ele precisava na época de maiores cuidados. Segundo porque eu tive algumas decepções profissionais aqui no estado por trabalhar com algumas pessoas novas na área e que ainda não são suficientemente capazes de exercer funções nas quais estão trabalhando. Isso infelizmente gerou uma insatisfação muito grande em mim, e me fez ser mais seletivo para com as pessoas que eu possa trabalhar e levar o meu conhecimento profissional.


Robson cantando com a banda Harppia


Você também é músico. Qual foi o seu melhor momento na música?

São muitos. Eu na verdade tenho muitas boas lembranças de shows e convites para participar de shows, acredito que o melhor momento ainda está por vir. Se for falar em época, acredito que foi a década de 90 inteira, pois tive várias oportunidades de cantar e gravar materiais que inclusive estão arquivados. Mas já houve alguns contatos com pessoas que estão interessadas em lançar um material inédito no mercado. Talvez ainda esse ano.


Robson com a banda Acid Storm


Existe alguma previsão em voltar a tocar?

Então, como eu disse anteriormente, tive alguns contatos com músicos que já havia trabalhado em São Paulo. Surgiram alguns convites de participar de bandas e projetos, não posso dizer para quando, mas tenho esse projeto em minha vida para médio ou curto prazo.


                                               Robson  em ação com a banda Acid Storm


E voltar a trabalhar como produtor de palco? Existe alguma possibilidade?

Sim existe. Inclusive eu estou querendo voltar a trabalhar nessa área em breve. Não sei se será aqui ou em São Paulo, vai depender de alguma boa proposta, tanto aqui como por lá. Eu sou fã incondicional de um artista aqui do Mato Grosso do Sul, o Almir Sater. E se um dia tiver a oportunidade de conhecê-lo serei muito grato, e seria mais honrado ainda se pudesse trabalhar com ele.


Robson e o baixista Rudy Sarzo (Ozzy Osbourne, Whitesnake, Quiet Riot e Dio)


Você deve ter presenciado algumas situações interessantes nos bastidores nesses anos todos em que trabalhou com shows. Tem alguma especial que você possa contar para a gente?

Eu costumo dizer que nesses 27 anos de profissão tive tantas situações boas como difíceis, e também algumas engraçadas. A partir do ano que vem devo escrever um livro sobre minhas experiências nos back-stages em que eu estive. Mas tenho uma que desde que comecei a trabalhar nessa área me ensinou muito de como devemos ser nessa minha profissão. A banda Oingo Boingo veio fazer uma turnê pelo Brasil e nós estávamos fazendo os shows de São Paulo, no ginásio do Ibirapuera. O empresário local que havia comprado as datas, chegou meia hora antes do show começar e foi ao portão de acesso aos camarins. Chegando ao portão ele tentou entrar, mas foi barrado pelo segurança, pois a ordem era de ninguém entrar se não estivesse credenciado, e essa ordem foi dada pelo próprio empresário. Nessa mesma hora eu estava do lado de fora e vi a cena toda, foi muito engraçado eu ver o empresário dizendo em voz alta: “eu sou o cara que está fazendo esse show, quem é você para não me deixar entrar?” O segurança respondeu que ele era o segurança e a ordem vinha de seus superiores, e ele não deixaria passar nem o Papa sem credencial. Foi quando ele me viu e pediu prá chamar um dos sócios dele lá dentro para resolver a situação. Eu até tentei fazer o segurança o deixar entrar, mas ele foi irredutível em dizer que não entrava ninguém sem credencial. Aprendi desde então que devemos ser sempre humildes e educados com todas as pessoas que estão trabalhando em sua volta, e que regras são feitas para serem obedecidas por todos sem distinção de cargo ou poder.


Robson com Zezé di Camargo e Luciano


Você viajou o mundo inteiro como produtor de shows. Qual foram os lugares mais interessantes que você conheceu?

Já viajei bastante mesmo. A Europa é o mundo velho, tem muitas histórias e locais fascinantes. A Ásia é o futuro misturado com a antiguidade, é muito louca a cultura milenar exercendo fortes impactos na cultura tecnológica. Mas a maior experiência que eu já tive foi em conhecer o nosso país, em cada estado uma cultura diferente e ao mesmo tempo sendo ligada por costumes e tradições. Costumo dizer que antes de alguém querer conhecer lá fora, conheça o nosso Brasil, ele é rico e imenso, tanto em cultura como em divisas, é onde tive muitas experiências incríveis e interessantes. Vale muito à pena conhecer o nosso país. Você começa a descobrir porque o mundo inteiro está interessado no Brasil, aqui realmente é o celeiro do mundo, pena que o próprio povo não se dê o devido valor.