A primeira parte do capítulo do livro postado anteriormente termina com a estreia de Guga Borba como vocalista de uma banda de rock. A continuação dessa história ainda está em pleno desenvolvimento, e no último domingo, teve mais um capítulo. Guga deu os primeiros passos na carreira musical como vocalista da banda Inverno Russo, e, vinte anos depois, o cantor e compositor está lançando seu primeiro disco solo, “Apneia”. Se o Filho dos Livres é o amadurecimento da parceria com Guilherme Cruz, “Apneia” é a síntese de toda a experiência adquirida durante esses anos.
Quem foi ao Parque das Nações assistir ao MS Canta Brasil, viu a competência pop de sempre dos mineiros do Jota Quest e um Guga Borba maduro e seguro. Com a responsabilidade de abrir o show de uma banda do porte do Jota Quest, Guga mostrou um ótimo domínio de palco e do público. Acompanhado apenas por percussão, guitarra e pelo seu violão, o cantor comandou a imensidão de gente – segundo a organização, no momento em que a banda mineira subiu ao palco, o público era de 90 mil pessoas – com segurança de quem labuta na música há vinte anos.
Durante os quarenta minutos em que esteve no palco, Guga mostrou algumas músicas do seu mais recente trabalho e ainda conseguiu fazer um retrospecto da sua carreira. Ele abriu a apresentação lembrando a época do Belladona, com “Standing outside the fire”, do cantor e compositor country Garth Brooks, logo em seguida tocou “Faces e máscaras” do Inverno Russo, e foi acompanhado pela multidão em “Senhorita” e “Meu Carnaval” do Filho dos Livres. Essa última, por sinal, fez aparecer na plateia, mãos segurando celulares e isqueiros acesos. Coube ainda espaço para uma descontraída brincadeira com o nome do Estado na música “Se você vier pro Mato Grosso”, de Renato Teixeira.
Com o público nas mãos, Guga estava bem à vontade para encerrar o show com as composições do seu novo, e primeiro disco solo. Com menos de um mês de lançamento, as músicas “O Relógio” e “Mulher muito bela” foram muito bem recebidas, mostrando que essa nova fase da carreira de Guga Borba ainda vai render muitos frutos, shows e momentos incríveis, como os do último domingo.
Fechando o segundo capítulo do livro sobre a parceria de Guga Borba e Guilherme Cruz, segue o restante da história de Guga. Lembro, novamente, que estou postando apenas trechos do livro, e que os capítulos anteriores estão nos posts antigos.
...Em 1998, quando Guga foi morar com a mãe, ele teve que se adaptar à nova vida. Com a mudança de situação, ele foi trabalhar em uma loja no Shopping Campo Grande. Mas foi justamente neste contexto, de vida nova, shopping e Giocondo, que Guga encontrou os primeiros parceiros musicais.
Em suas andanças de bicicleta pelo bairro novo, Guga foi parar em uma quadra de vôlei, onde conheceu seus futuros parceiros de Inverno Russo. Quando ele chegou, a primeira coisa que chamou sua atenção foram as meninas que assistiam ao jogo. Após o jogo, rolou uma roda de violão, e quando Guga viu que o cara que tocava violão era muito ruim, pediu: “Me deixa tocar esse violão ai?”
— Eu só sabia tocar três músicas, as três do Pink Floyd, “Wish you were here”, “Mother” e “Confortubly numb”. Quando eu comecei a tocar os caras ficaram de boca aberta. Depois, eles me falaram que estavam montando uma banda e queriam que eu cantasse. Pensei que era piada né?!
No outro dia o Alexsandro, futuro baixista do Inverno Russo, ligou para o Guga avisando que iria rolar um ensaio na mesma casa em que ele tocou violão. Ainda incrédulo Guga perguntou se não era brincadeira. Alex respondeu: “É sério, o ensaio é amanhã às sete horas, a gente vai tocar “Beth balanço”, “Ska”, entre outras”.
No dia e na hora combinada lá estava Guga. Como conhecia as músicas do repertório, não teve problema com as letras, soltou a voz com vontade. Dog também trabalhava no shopping, e um belo dia após o trabalho, Guga o convidou para assistir o ensaio da banda.
— Eu fiquei impressionado com o talento de cada um deles. Todos eram mais jovens do que eu e faziam aquilo como gente grande. Eu lembro bem do Guga com o microfone na mão, era um veterano com apenas 16 anos de idade. Me tornei fã na hora.
A primeira formação do Inverno Russo era o Guga no vocal, Alexis no sopro, André Coelho no teclado, Alexsandro no baixo, Fábio “Corvo” Terra na guitarra e o Alexandre “Deco” Lacôrte na bateria. É nessa parte da história que a vida de Guga e Guilherme se cruza. Guilherme se lembra de na verdade, ter tocado no Inverno Russo antes do Guga entrar.
— Quando eu era do Inverno Russo, o Guga ainda não era da banda. Esse é o grande lance, pois teve o Inverno Russo e o pré-Inverno Russo. No começo era o Fábio “Corvo” Terra e o Deco, e às vezes eu ia lá tocar guitarra. Eles não tinham nem baixista ainda, depois que eles chamaram o Alexsandro. Nessa época o vocalista era um cara chamado Carlinhos.
O Inverno Russo foi a primeira banda profissional de Guga. Em pouco tempo, a banda já era conhecida, e Guga, com apenas 15 anos, já era notícia. Um amigo próximo, Rubens Costa Marques, assinava uma coluna no Jornal de Domingo e fez uma matéria com o Inverno Russo. Duas semanas depois, Rubens fez uma matéria só com o Guga, foi ai que seus pais perceberam que o Guguinha já era o Guga Borba do Inverno Russo.
— Depois que eu sai no jornal meus pais perceberam que o lance era sério. Pouco tempo depois, teve uma gincana da Capital FM, e eles pediram uma foto de um dos integrantes do Inverno Russo. Eles foram bater aqui em casa, minha mãe ficou doida: “Nossa, meu filho está famoso, até foto estão pedindo”. Meu pai também ficou muito orgulhoso...
...Na época que Guga entrou no Inverno Russo, Guilherme estava saindo para tocar com a banda “Outdoors”. Mas logo voltaria ao Inverno Russo, o que facilitaria muito a possibilidade de Guga emplacar suas músicas.
Depois que Jim Morrison escancarou as portas da percepção da mente de Guga, ele começou a escrever suas próprias músicas. Conseguir escrever e tocar era o mais importante naquele momento. Ele levava suas composições nos ensaios do Inverno Russo, mas o restante da banda não curtia.
— O Rodrigo Teixeira morava perto da minha casa, então eu ficava ouvindo eles tocarem e pensava: Poxa, os caras estão fazendo o som deles e eu aqui tocando cover ? Eu vou cantar músicas dos outros até quando?
Nessa primeira fase do Inverno Russo, Guga e Guilherme tocaram juntos apenas em alguns ensaios, mas a dedicação e a seriedade do guitarrista impressionaram Guga. Além de tocar bem guitarra e violão, e de ter instrumentos bons, Guilherme gostava de fazer as coisas bem feitas. Se for para tocar músicas dos outros, vamos tocar igual.
Depois que Guilherme efetivamente se juntou ao Inverno Russo, a afinidade musical entre eles logo se destacou do resto da banda. Como a banda basicamente tocava covers, Guga gostava de mudar alguma coisa no arranjo das músicas, fazer alguma coisa diferente. O único que entendia e gostava era o Guilherme.
— Trabalhar com o Guilherme é muito gratificante, ele é muito musical. O que ele pega ele toca, ele monta a versão dele, assim fica fácil para mim. Eu já sei o que tenho que fazer, vai fluindo. Tem outro lado, quando você toca com o Guilherme você não pode errar, senão ele segue em frente e você fica perdido.
Com toda essa afinidade musical, a amizade fora dos estúdios seria uma questão de tempo. Logo, um começou a frequentar a casa do outro, conhecer a família, e claro, se tornaram parceiros de balada. Quando não estavam ensaiando, estavam juntos por ai tomando cerveja ou azarando as mulheres.
— Meus pais adoram o Guilherme, minha mãe fala que a gente parece irmão. O doido é que eu tenho um irmão “de verdade” chamado Guilherme.
O Inverno Russo fazia um enorme sucesso nos bares e boates de Campo Grande, a banda era muito requisitada por atrair um grande número de fãs. Os músicos eram muito assediados, principalmente pelas mulheres. Esse sucesso com as mulheres despertou um enorme preconceito entre a rapaziada da época. Guga passou pelo menos por um grande aperto na mão dos enciumados.
— Eu estava saindo do – bar – Jamaica, quando cheguei na esquina percebi o movimento. Um bando de head-banger com camisetas do Slayer e do Iron Maiden. “Olha o mauricinho do Inverno Russo, vamos pegar o “New Kids On The Russo” . Eu corri para o outro lado da rua mas os caras me cercaram. Fudeu né?! Vou levar um pau. De repente eu ouço dois caras falando: “Não vai fazer isso com o cara não, o cara é gente boa, ele gosta de rock também, o cara é meu amigo e é da paz”. Era o Bráulio e o “Boi”. Esses caras me salvaram de levar a maior surra da minha vida.
Aos poucos a banda foi deixando um pouco os covers de lado e começou a compor canções próprias. Guga passava as tardes inteiras na casa do Guilherme compondo. Eles se trancavam em um quartinho e ficavam horas e horas criando os arranjos dessas músicas. Aparentemente tudo caminhava bem para o Inverno Russo, até que um incidente com o nome da banda mudou totalmente os rumo da banda, e de Guga também.
O Inverno Russo foi convidado para abrir o show da banda Dr. Sin em Campo Grande , mas a uma semana do show eles recebem uma carta do criador do nome Inverno Russo dizendo que eles não poderiam mais usar o nome. Em uma atitude de protesto, Guga queimou uma camiseta da banda no ginásio da Mace lotado.
— Eu juro que não queria ter feito dessa maneira tão radical, mas, cara, a gente trabalhou tanto por uma coisa que não era nossa. Porra! Eu me senti muito mal, e a minha maneira de mostrar isso foi queimando a camiseta.
Depois desse episódio, a banda chegou ao fim. Guga, Guilherme e os outros integrantes conversaram e decidiram que era a hora de tentar algo maior. Eles tinham que ir para São Paulo batalhar um lugar ao sol. Após a conversa, Guga, Guilherme e o baterista Deco resolveram tocar o trabalho a frente e foram para São Paulo montar a banda Belladona...
...A temporada em São Paulo estreitou ainda mais a relação de Guga e Guilherme. O baterista Deco não pôde ir no início porque sofreu um acidente de carro. Então, a carga toda da banda ficou em cima dos dois. Incluindo achar um baixista em uma cidade onde eles não conheciam ninguém. Durante quase dois meses a banda era só os dois. Foi responsabilidade deles abrirem o caminho.
— O Guilherme me impressionou muito quando a gente foi para São Paulo. Ele não precisava estar ali passando por todo aquele perrengue, ele tinha uma vida boa em Campo Grande. Ele estava ali porque gostava e acreditava...
...Nas sessões de gravação do disco do Belladona, Guga e Guilherme tiveram um envolvimento diferente de apenas tocar e compor. Coube aos dois, juntamente com o técnico, construir o disco.
— O Deco gravou a bateria e foi embora, o Raul gravou o baixo e foi embora, o produtor aparecia um pouco e ia embora. Então, eu e o Guilherme ficamos sozinhos para cobrir o disco com os outros instrumentos. Foi muito bom para gente isso ter acontecido. A gente passava muito tempo junto, e o bom é que a gente não enjoava um do outro.
Após gravar um disco pela Warner Music e ter feitos vários shows em São Paulo , o Belladona teve um problema de contrato com seu produtor, o que acabou dificultando o trabalho da banda...
...Em 1999, logo que voltou de São Paulo, Guga montou a banda Naip juntamente com o ex-tecladista do Inverno Russo André Coelho. O irmão do André, Rafael Coelho era o baixista e o Dog na percussão. A fórmula de trabalho era igual nos tempos do Inverno Russo, tocar as músicas de sucesso no momento, e covers de algumas bandas grunge. Mas Guga não parava de compor.
Com o fim do Belladona, Guilherme foi estudar áudio em Los Angeles. Quando voltou ao Brasil foi trabalhar como assistente no estúdio Midas, em São Paulo , e nas férias vinha para Campo Grande. Em uma dessas visitas, Guga mostrou suas composições para Guilherme.
— Quando ele vinha para Campo Grande e tinha show do Naip ele dava uma canja. Eu sentia que o cara fazia a diferença. Antes disso, quando ainda morava nos Estados Unidos, o Guilherme me mandava músicas dele que mais tarde foram gravadas no primeiro disco do Filho dos Livres. Ai um dia a gente sentou e conversou, ele me disse que ia voltar. Puta Merda! Obrigado Deus! Mil vezes obrigado!
A princípio Guga não acreditou muito que o parceiro iria voltar, afinal, Guilherme tinha um ótimo emprego em um dos melhores estúdios do Brasil. Mas Guilherme voltou e se juntou ao Naip...
...Quando fala das suas composições, Guga gosta de ressaltar que o que lhe inspira é o que acontece a sua volta. “Música é feita de momento, do que está acontecendo. Eu escrevo sobre o que eu passei, sobre o que estou passando e sobre o que eu quero passar”.
— Eu sou apaixonado pela vida, pelas mulheres, pelas plantas, pelas crianças. Adoro mergulhar, tudo isso me inspira.
A solidão por opção é algo que inspirou Guga a compor algumas de suas melhores músicas. “Eu sempre gostei de ficar sozinho. Gosto de ficar no meu canto, pensando nas minhas coisas”. Essa necessidade de ficar só, sem ser incomodado e sem incomodar, é explícita na música “Meu carnaval”.
— Entre uma viagem e outra, a gente chega em casa para trocar de roupa, pegar a mala, falar com gente dentro de casa. Eu quero pegar a minha bagagem sem incomodar ninguém. Quero ficar na minha....
...Guga gosta muito da oportunidade que a música lhe dá de poder falar o que quiser. “Eu não vou ter muito tempo, daqui a pouco vem outros artistas. Eu acho legal deixar um pouco da minha marca na história, de poder contribuir”.
— Tem música que ela só vem, eu só encontro os trechos. Ela não tem uma finalidade ou um propósito. Têm outras que eu escrevi quando estava vivendo aquela situação. “Sol”, por exemplo, eu tinha terminado um namoro, e a letra diz: “Sai da ponte... cai na lona”. Certamente a menina sacou quando ouviu.
Geralmente as pessoas perguntam se suas músicas foram feitas para alguém especial. “Sim! Para mim e para as pessoas que estão em minha volta”. Tostão & Guarany e Geraldo Roca já foram homenageados em suas canções.
A música “Cantador” nasceu quando Guga trabalhou com Tostão & Guarany no “Festival da América do Sul” em Corumbá. Guga era assistente de palco, e a dupla os apresentadores. A convivência de 24 horas por dia durante sete dias inspirou Guga. Essa música está na trilha sonora do filme “Cabeça a Prêmio” do diretor Marco Ricca, que foi rodado inteiro em Mato Grosso do Sul.
— Eu estava trabalhando com eles e me deu vontade de falar sobre os caras. Eu me lembrei de umas coisas que tinha acontecido e encaixei os caras na história. Criei toda uma história doida, imagina eu comprar um cavalo? Só na última frase é que entra o nome deles.
Em 2006, Geraldo Roca produziu um CD chamado “Novidade Nativa”, e o Filho dos Livres foi um dos convidados. O disco tinha um conceito, um tema: Falar sobre as coisas de Mato Grosso do Sul. Guga já sabia o que fazer, “vou falar do Roca”.
— “Atol” foi feita para o Roca. Quando eu conheci o Roca, foi igual com o Geraldo Espíndola, meu joelho tremeu. Mas isso não quer dizer que eu amo ele, que quero casar com ele e quero beijar aquela boca. Kkkk...
...Guga e Guilherme já sentaram várias vezes para discutir o novo disco do Filho dos Livres, e a única conclusão que chegaram é de que o disco tem que fluir, não pode ser vomitado. Enquanto não souberem o que vão fazer, o disco não sai. Aliás, a única coisa que está certa, é que o próximo disco do Filho dos Livres terá uma participação mais que especial.
— Esses tempos eu trabalhei com o Grupo Acaba e eles adoraram. Eles elogiaram o meu trabalho e perguntaram o que podiam fazer para retribuir. Eu falei brincando que eles poderiam participar do próximo disco do Filho dos Livres. Cara! Eles aceitaram, imagina, o Grupo Acaba é um presente.
Enquanto o disco novo do Filho dos Livres ainda não encontrou seu formato, Guga e Guilherme estão no momento trabalhando em seus discos solos. Para Guga, esses trabalhos paralelos não interferem no Filho dos Livres. “Artisticamente é sempre bom fazer outras coisas”.
O disco solo que Guga deve lançar até o fim de 2010 tem a sonoridade um pouco distinta do trabalho do Filho dos Livres. Produzido pelo músico Adriano Magôo, o disco é inteiro eletrônico e, segundo Guga, parcialmente fora da concepção comercial. Com exceção de “É necessário” – Geraldo Espíndola – todas as outras são composições próprias.
— O meu disco está muito louco, tem um samba do crioulo doido, tem um forró que o Guilherme toca guitarra. Tem uma música chamada “Mulher” que tem tudo a ver com o momento que vivo agora, eu falo sobre minha namorada e sobre o campeonato de futebol virtual que eu disputo com meus amigos. “O Relógio”, eu fiz pensando no relógio da Rua 14 de Julho. Em “Indireção”, pode-se ouvir no fundo o cochicho de alguns amigos, como o Dog. Eu tirei o sorriso da música do Geraldo. Eu sou grunge né cara? Kkkk.
Guga acabou lançando “Apneia” em julho de 2011, no projeto “MS Canta Brasil”, cantando para 90 mil pessoas na abertura do show da banda mineira Jota Quest.






19 de setembro de 2014 às 06:41
Estava na noite que o Guga quase levou porrada dos head-banger , na época eu tocava junto com o Boi no Kadeira Elétrica, o Braulio era amigo da banda e nós tocávamos direto no Jamaica. O Guga já era um cara muito legal, além de generoso, não rivalizava, apoiava a nossa banda. Bons tempos!
Felipe Moreto